O presidente do Uruguai, José Mujica, virou uma inspiração para o mundo em uma época onde a credibilidade dos políticos e da própria política é posta à prova.
Segundo a ONU, ele se ofereceu para abrigar 100 crianças refugiadas da Síria, na mansão presidencial do país.
Elas devem chegar em setembro, de acordo como Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Estima-se que cerca de 30 mil pessoas necessitam de refúgio por conta da crise política e humanitária que assola a região desde 2011.
O Brasil, por exemplo, deve receber dois mil sírios.
A mulher do presidente, a senadora Lucia Topolansky, disse ao Yahoo News que a ideia de adotar os órfãos é para “motivar todos os países do mundo a tomar responsabilidade pela catástrofe na Síria”.
Para além de medidas socialmente liberais como a legalização da distribuição e consumo da maconha no país, a aprovação do casamento gay e a adoção de uma política avançada para o aborto – a maior da região e responsável por zerar a mortalidade materna no país – José “Pepe” Mujica é conhecido pelo seu jeito humilde e por sua ideia sobre a representação política em uma democracia.
Em entrevistas, Mujica sempre defende a tese absurdamente simples: somos todos iguais – cidadãos, empresários e governantes. Tanto por isso, não há para que viver com mais do que é preciso. O presidente doa cerca de 80% do seu salário mensal de U$ 12 mil para caridade, mora em um sítio simples e dirige um fusca. Ao Globo, em uma entrevista dada no início do ano, disse:
Na república é distinto, ninguém é mais que ninguém, começando pelo governante. Por não ser assim é que muitíssima gente — especialmente os jovens — não crê na política. A política não pode ser máfia e tem limitações. Mas se os cidadãos não creem na ética da política, também não vão perdoar os erros humanos que inevitavelmente estamos condenados a cometer.
Nessa mesma entrevista, ele dá sua opinião sobre a política atual e a consequência ruim daqueles que buscam no serviço público apenas um meio de ganhar dinheiro, não de melhorar a vida das pessoas.
Temos de revalorizar o papel da política. Mas no mundo real, muita gente se mete na política por que gosta de dinheiro, estes devem ser expulsos porque prostituem a política. A política tem de ser feita com carinho, a política tem a ver com a harmonia das contradições que há na sociedade, tem de lutar para harmonizar este mundo frágil e cheio de contradições que estamos vivendo.
As posturas do presidente, aliada as boas condições econômicas colocaram o Uruguai em evidência. O país foi escolhido pela Economist, no ano passado, como o “país do ano” pelas medidas que adota e que, segundo a revista, se fossem imitadas no resto do mundo trariam frutos positivos para todos nós.
Isso sem falar no melhor: quebrando a tradição política latino-americana, Mujica não tem pretensão de ser presidente ou político até morrer. Ao sair da presidência anunciou que vai se dedicar a plantar tomates e acelga e “ensinar jovens a cultivar a terra e a vender o que colherem”.
Fonte: Apartamento 702