Relatos mostram que Exército foi avisado quatro horas antes do sequestro de quase 300 alunas no norte da Nigéria
No final da tarde de 14 abril, o posto de comando do Exército da Nigéria em Damboa, norte do país, recebeu repetidos telefonemas de que alguma coisa estava errada. O mesmo aconteceu no quartel em Maiduguri. Os soldados foram avisados que homens não identificados se dirigiam em motocicletas para Chibok fortemente armados. A informação chegou a dois importantes políticos locais, entre eles o governador, e a militares de alta patente. Ninguém fez nada. Horas depois, os homens armados entraram em Chibok sem enfrentar resistência e sequestraram quase 300 alunas que estavam na escola para fazer exames.
Relatos publicados nesta sexta-feira (9) pela ONG Anistia Internacional mostram que o Exército da Nigéria sabia que o Boko Haram preparava uma ação terrorista em Chibok. “Após verificar de forma independente a informação com múltiplas entrevistas e fontes confiáveis, a Anistia revela que as forças de segurança da Nigéria souberam do ataque com quatro horas de antecedência e não fizeram nada para impedir”, diz a organização.
Os relatos mostram que as autoridades nigerianas sabiam até mesmo o alvo do Boko Haram. Os militantes pararam no meio do caminho e pediram informações para trabalhadores rurais. Eles queriam saber de que lado ficava Chibok e mencionaram especificamente a escola onde as meninas estudavam. Esses trabalhadores avisaram a polícia, e ouviram das autoridades de que reforços seriam enviados.
Os reforços, no entanto, nunca foram enviados. Segundo a Anistia, quando o Boko Haram chegou a Chibok, precisou enfrentar um efetivo de apenas 17 soldados. Um deles foi morto, e os demais recuaram, abrindo caminho para o sequestro. A incapacidade do país em mobilizar suas tropas no interior e até mesmo o medo de enfrentar o Boko Haram – que conta com mais homens e armamento pesado – pode ter contribuído para que as autoridades ignorassem a ameaça e as denúncias recebidas horas antes.
O resultado se transformou em grande embaraço para a Nigéria, que três semanas depois do sequestro, não tem ideia do paradeiro das meninas. O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, assumiu a autoria do sequestro e disse que venderá as meninas para forçá-las em casamento. Há relatos do que algumas das adolescentes já tenham sido vendidas pelo valor de US$ 12.
Fonte: Época