1. Abril de 2012, Equador.
Em sua primeira missão como Enviada Especial, Jolie apelou ao governo equatoriano para que perpetue a longa história de proteção dos refugiados e a tradição de ajudar as pessoas vulneráveis em necessidade. Também avaliou a situação nas áreas urbanas e rurais para refugiados colombianos, como o bairro de San Valentin, onde mais de 60% da comunidade é refugiada vivendo em extrema pobreza. Encontrou-se com jovens equatorianos e refugiados colombianos, os quais lhe contaram sobre suas vidas difíceis em uma área onde são frequentemente alvos de recrutamento por grupos armados e traficantes. “Ninguém quer ser um refugiado, ser obrigado a deixar sua casa. Ninguém quer viver em uma terra emprestada e ter que pedir por um visto todos anos, sem saber o que será da sua vida e da vida de seus filhos, se eles conseguirão trabalho ou ajuda médica”. Jolie também salientou a importância de conscientizar a população local sobre o que é um refugiado: “Pelo que eles passaram, a que sobreviveram, quais são suas intenções. E suas intenções são simplesmente segurança e uma vida digna para sua família”.
2. Setembro de 2012, Jordânia.
A Enviada Especial e o Alto Comissário António Guterres começaram pela Jordânia a visita conjunta aos países que estão hospedando milhares de refugiados sírios. Jolie visitou o campo de Za’atri e se reuniu com um grupo de 200 refugiados traumatizados, incluindo muitas crianças, momentos após eles terem cruzado a fronteira, alguns com lesões e muitos contando histórias de perdas e brutalidade. “Tem sido uma experiência pesada, porque geralmente você vai aos campos e encontra pessoas em situação de conflito, mas raramente você os encontra quando estão cruzando a fronteira e você os conhece no momento em que se tornam refugiados, o momento em que já perderam sua casa, sua escolarização, seu sustento, sua educação, tudo se foi, e eu pergunto a eles, o que você trouxe? E eles dizem ‘isto, a camiseta que visto’”, narrou Jolie. A Enviada contou também como era particularmente difícil ouvir as crianças descrevendo as experiências terríveis que tiveram antes de alcançar segurança na Jordânia: “Eles descrevem partes do corpo separadas, queimadas, pessoas queimadas sendo mutiladas. Uma criança, quando perguntada sobre o que viu, descreveu partes do corpo sendo separadas, pessoas queimadas sendo separadas como galinha. Foi uma menininha de nove anos que disse isto. É também emocional demais estar com pessoas que estão se perguntando quem estaria ao seu lado”. “Sou grata à Jordânia e aos outros países vizinhos por manterem suas fronteiras abertas, por salvar a vida dessas pessoas, eles estão morrendo na Síria. Se eles não tivessem conseguido fugir com suas famílias, muitas das pessoas aqui, muitas pessoas com quem me encontrei hoje estariam de fato mortas. É uma situação horrível e muito, muito crítica. Então para todos os políticos, e nós não somos eles, mas nós temos esperança e rezamos para que eles resolvam algo logo, porque as pessoas estão morrendo, centenas e centenas de pessoas estão morrendo todos os dias. A quantidade de crianças inocentes que está morta, a quantidade de crianças inocentes que eu encontrei aqui e que estão feridas, desacompanhadas, com seus pais assassinados e por conta própria. É impossível imaginar qualquer mãe se abstendo e não fazendo qualquer coisa para evitar isto”.
3. Setembro de 2012, Líbano.
No segundo dia da missão conjunta, Jolie e Guterres ouviram sobre as dificuldades que as pessoas enfrentam para escapar do conflito sírio e o desafio de encontrar abrigo no Líbano. Reuniram-se com altos funcionários do governo libanês para discutir a resposta humanitária do ACNUR e agradecer o apoio recebido, e também escutaram as histórias dolorosas dos refugiados que conseguiram chegar ao Líbano após trajetos arriscados de terror. Jolie e Guterres também ouviram histórias de famílias libanesas que dirigem voluntariamente até as fronteiras e pegam famílias refugiadas sírias, levando-as para suas próprias casas, algumas partilhando seus pequenos apartamentos desde o início do conflito. Mostrando preocupação especial para com as crianças, Jolie visitou uma escola onde ACNUR e Save the Children têm proporcionado aulas de reforço e apoio psicológico e social, pois muitas das crianças perderam até dois anos de escola e estão traumatizadas. As crianças libanesas também participam do programa a fim de promover a integração.
4. Setembro de 2012, Turquia.
Jolie e Guterres visitaram dois dos doze campos de refugiados localizados na fronteira Turquia-Síria e agradeceram os esforços do governo turco para manter suas fronteiras abertas e proporcionar a garantia de que nenhum sírio seria forçado a regressar. O papel do Crescente Vermelho turco na prestação de ajuda aos refugiados também foi elogiado. “Os sírios têm uma história de acolhimento das pessoas necessitadas. Agora é a sua hora de necessidade e eu sou grata à Turquia e a todos os países vizinhos por sua extraordinária generosidade”. Educação foi um tema recorrente durante a visita e algumas famílias de refugiados expressaram aos representantes do ACNUR sua preocupação com o futuro das crianças: “Não há nenhuma maneira de crescer como refugiado. A vida para. Mesmo que estejamos vivos, a vida acabou”, afirmou um sírio.
5. Setembro de 2012, Iraque.
Jolie se reuniu com funcionários do alto escalão do governo e agradeceu a boa vontade do Iraque em acolher os refugiados sírios. Muitos políticos com os quais conversou foram refugiados e falaram à Enviada: “Nós sabemos como eles se sentem”. A atriz se encontrou também com outros iraquianos, até então refugiados na Síria, que foram repatriados devido ao conflito no país vizinho (cerca de 30.000 iraquianos retornaram repentinamente ao país natal).
6. Dezembro de 2012, Jordânia.
Jolie viajou até a fronteira Jordânia-Síria para encontrar os refugiados sírios que tinham acabado de completar a travessia perigosa até a Jordânia. “O que eu vi é um exemplo dramático da situação de centenas de milhares de sírios que foram desenraizados pelo conflito e estão em uma busca desesperada por segurança”, relatou Jolie. A Enviada Especial elogiou a postura da Jordânia diante da crise de deslocamento em massa: “A incrível compaixão mostrada a estas famílias traumatizadas e refugiadas pelos guardas da fronteira foi extremamente comovente. A Jordânia acolheu os refugiados, embora o deslocamento sobrecarregue o país. A comunidade internacional precisa mostrar mais solidariedade e apoio a Jordânia e aos outros países da região que continuam a manter suas fronteiras abertas”. Os médicos no posto da fronteira informaram à Enviada que, até então, pelo menos seis pessoas que chegavam durante a noite tinham que ser hospitalizadas, algumas com ferimentos de bala. Jolie ficou atordoada ao saber da história de um menino que tivera a perna amputada. “Foi extremamente perturbador ouvir a trajetória de um menino de oito anos de idade que, quando chegou à fronteira, explicou aos médicos que pediu para sua família carregar sua perna amputada durante a jornada, na esperança que ela fosse recolocada”.
7. Junho de 2013, Jordânia.
Em nova visita ao campo de refugiados de Za’atari em razão do Dia Mundial do Refugiado, Jolie escutou os relatos de dor e perda de homens, mulheres e crianças recém-chegados de Homs, Dara’a e Qusair, três cidades drasticamente devastadas pela guerra civil síria. “Não conseguimos conhecer sua dor”, disse.
Segundo Jolie, o objetivo da visita foi “mostrar apoio aos refugiados sírios, chamar a atenção do mundo para a situação em que se encontram e entender melhor as necessidades da Jordânia e de outros países da região que estão sendo diretamente afetados por esse conflito tão devastador”. Após escutar as histórias de coragem e tristeza dos refugiados, Jolie se reuniu com o General Hussein Al-Zyoud, comandante das forças de segurança da fronteira, e sua equipe.
Jolie também visitou refugiados que não vivem no campo de Za’atari: “A maioria dos refugiados vive em outros lugares. Aqueles que não estão nos campos são invisíveis. Refugiados lutando para sobreviver em aldeias, vilas e cidades pela região”. A Enviada Especial testemunhou relatos de violência sexual contra mulheres e crianças na Síria e ressaltou que estas são as vítimas que mais sofrem com o conflito: “Mais de 50% dos refugiados são crianças. Centenas de milhares estão traumatizadas e milhares estão mortas”.
Jolie também reiterou ao mundo o pedido por mais ajuda ao povo sírio. “A resposta internacional para a crise está aquém da grande escala dessa tragédia humana”, disse.