2003
Em 2003, Jolie lançou simultaneamente “Diário das Minhas Viagens”, coleção de relatos sobre suas experiências de campo em Serra Leoa, Tanzânia, Paquistão, Camboja e Equador, e o longa-metragem “Amor sem Fronteiras”, cujo enredo reflete o interesse real da atriz na promoção da ajuda humanitária.
Também no mesmo ano, Jolie criou a Fundação Maddox Jolie-Pitt no Camboja, dedicada à erradicação da pobreza rural extrema, proteção dos recursos naturais e conservação da natureza. A Fundação ainda promove economias rurais sustentáveis, trabalhando com aldeões e governos locais para aliviar a segurança alimentar e aumentar o acesso aos cuidados essenciais de saúde e à educação básica, com formação profissional, infraestrutura, planejamento rural e programas de microcrédito.
2005
Em 2005, Jolie lançou o Centro Nacional para Crianças Refugiadas e Imigrantes, organização que presta assistência jurídica gratuita a jovens solicitantes de refúgio nos EUA. No discurso inaugural, Jolie afirmou: “Há poucos anos, quando eu era apenas uma atriz, eu realmente não me sentia bem comigo mesma, nem um pouco. No final do dia, eu não sabia o que estava fazendo ou o porquê estava fazendo, porque a minha vida não tinha utilidade para os outros. Depois eu percebi que posso viajar, posso testemunhar, posso chamar a atenção das pessoas. Se você está comprometido com esse programa, não por fazer o que tem que ser feito ou o que é pago para fazer, mas para fazer o que você acredita que deve ser feito, porque você acredita em justiça, é a maior contribuição que você pode dar. Essas crianças estão implorando por suas vidas. Então, por favor, as escute”.
Atualmente, o programa pertence ao U.S. Committee for Refugees and Immigrants e recebe o nome de Immigrant Children’s Legal Program.
2006
Em 2006, Jolie criou o Education Partnership for Children of Conflict (EPCC), em parceria com Gene Sperling, fundador do Centro para Educação Universal, a fim de financiar programas de educação para crianças afetadas por conflitos. Jolie e Sperling lançaram oficialmente a parceria em 2007, durante a Clinton Global Initiative, anunciando o compromisso de 19 organizações de renome mundial para educar mais de um milhão de crianças afetadas por conflitos em 15 países. Os compromissos incluem apoio à educação para crianças iraquianas refugiadas, jovens afetados pelo genocídio de Darfur, meninas e jovens da zona rural do Afeganistão, entre outros grupos afetados por conflitos na África, Ásia, América Latina e Oriente Médio. À época, Jolie discursou: “Eu tenho viajado por mais de seis anos com o ACNUR e eu tive uma grande, grande honra em passar o tempo e conhecer as crianças refugiadas, as crianças no conflito. E elas são notáveis, são gratas, são determinadas. E estas são crianças que podem ser oprimidas pelo desespero ou pela violência. Ou estas são crianças que amanhã poderão ser professores, engenheiros, líderes de seus países, advogados e médicos que ajudarão a reconstruir seus países destruídos. E ainda a educação é frequentemente esquecida. Mais de 20 milhões de crianças no conflito estão fora da escola. Nada garante mais liberdade do que a educação. E não há melhor impedimento para um conflito do que uma sociedade com educação”.
O EPCC acredita que a educação é parte vital da estratégia humanitária para situações de emergência, conflito, pós-conflito e refúgio, para acabar com ciclos de violência e construir sociedades pacíficas estáveis. Desde a sua criação, já trabalhou com mais de 30 organizações para melhorar o acesso à educação de qualidade para crianças em conflito, em mais de 20 países. Sobre a educação das crianças, Jolie afirmou em 2005: “O que é interessante é que nos campos de refugiados as crianças estão implorando para ter uma chance de ir à escola. Elas trabalham muito, são pequenos adultos, passaram por tanto, e quando você pergunta o que elas querem ser, ‘eu quero ser médico para ajudar meu povo’, ‘eu quero ser arquiteto porque quero reconstruir meu país’, infelizmente, elas estão muito focadas nas necessidades de sobrevivência, mas por isto se tornam notáveis, fortes, inteligentes. Se nós as ajudarmos, elas vão crescer numa direção positiva”.
2007
Em 2007, Jolie lançou o documentário “A Place in Time”, o qual busca registrar a diversidade da vida e a comunhão do espírito humano através de gravações simultâneas em 27 países, como Chade, Níger, Itália, China, Jordânia e Líbano. O filme ressalta a ideia de comunidade global, onde um problema em um lugar do mundo também é de responsabilidade de todos os outros países, e a importância da educação para a formação de futuros líderes conscientes da interdependência moderna.
Ainda em 2007, Jolie estrelou o longa-metragem “A Mighty Heart”, adaptação da biografia da jornalista Mariane Pearl, sobre a qual definiu: “Ela é um exemplo de alguém que sofreu com o lado horrível do que acontece hoje no mundo, mas continuou com um senso de ‘nós temos que manter o diálogo, nós temos que continuar a entender uns aos outros, não podemos nos cegar pelo ódio’”.
Durante o lançamento de Global Action for Children, organização responsável por arrecadar fundos para órfãos em países em desenvolvimento e da qual Jolie é Presidente Honorária, a atriz discursou: “Eu lhes peço para não pensar nas crianças órfãs como um fardo, mas como uma grande oportunidade, sua educação e seu bem-estar são investimentos no nosso futuro. Quando eu me envolvi neste tema pela primeira vez, lembro-me de terem me falado que a única coisa que todos eles compartilham é um começo de vida muito difícil. Eles conheceram a fome, a solidão, a morte e tiveram que lutar muito, muito forte para sobreviver. Mas quando lhes é dada uma chance, eles crescem fortes, mais fortes que a maioria. Acredito que os “Garotos Perdidos do Sudão” (nome dado a mais de vinte mil meninos que se tornaram deslocados internos e/ou órfãos durante a 2ª Guerra Civil Sudanesa, entre 1983 e 2005) sejam um bom exemplo. Eles lutaram contra desafios inacreditáveis e com a ajuda de muitas organizações, eles se sobressaíram e hoje eles são fortes, representam uma grande esperança para o futuro do Sudão. Em minhas viagens, eu vi diferentes cenários para essas crianças. Algumas vencem as adversidades e, apesar de serem órfãos, famílias as acolhem, governos e ONGs fornecem cuidados básicos de saúde, educação, as comunidades as protegem daqueles que querem explorá-las. E de alguma forma elas conseguem e, sobreviventes, incorporam o melhor que nosso mundo pode alcançar. Mas há outro cenário, muito mais sombrio e mais comum. E eu estou falando da menina de cinco anos de idade que teve que mendigar, do garoto de doze anos no norte de Uganda que foi sequestrado e treinado como criança soldado e forçado a matar, da garota de oito anos que estava tão faminta que trocou sexo por comida. Estes cenários são cada vez mais comuns. O crescente número de órfãos, o crescente número de uma juventude abandonada, suscetível à escravidão, recrutamento e atividades terroristas, tráfico de crianças, prostituição. Nós moldamos nosso futuro através da forma que criamos nossas crianças. E crianças órfãs são crianças do mundo. Nós sabemos o preço da nossa indiferença, sabemos o que pode acontecer com todas essas crianças, sabemos das consequências da nossa inação. Eu fui tão sortuda por ter tido a oportunidade de conhecer muitas dessas crianças e eu posso contar a vocês que não há felicidade maior e que elas são pessoas maravilhosas”.
Neste mesmo ano, Jolie se tornou membro do Council on Foreign Relations (CFR), financiando desde então relatórios da entidade, como o “Intervenção para parar atrocidades em massa e genocídio”.
2008
Em parceria com a Microsoft, a atriz lançou o Kids in Need of Defence (KIND), um movimento com escritórios de advocacia, empresas, organizações não governamentais, universidades e voluntários que oferece assessoria jurídica para refugiados desacompanhados e filhos de imigrantes nos Estados Unidos. A KIND serve como a principal organização na proteção de crianças desacompanhadas que entram no sistema de imigração nos Estados Unidos e se esforça para garantir que nenhuma criança apareça no tribunal de imigração sem representação.
Em abril, durante fórum do CFR nos EUA sobre “Iraque, Educação e Crianças no Conflito”, Jolie discursou: “É fato que a melhor maneira para curar crianças no conflito e seus traumas é focar as suas mentes em seu futuro e lhes oferecer uma educação melhor. Também é um fato que uma população educada é a melhor garantia para um futuro estável e próspero. Eu não estou dizendo algo que todos nesta sala já não saibam. É senso comum. No entanto, a educação ainda não é prioridade da comunidade internacional. Apelos não foram atendidos e alguns programas de governo ainda não têm mandato de educação. Estamos aqui para falar sobre as crianças do Iraque. Mas, primeiro, eu gostaria de dizer algumas palavras sobre as crianças no conflito, quem são elas. Estas são crianças que vivem em campos de refugiados, onde o tempo médio de permanência é de 17 anos, mas também há as que não vivem nos acampamentos, como na Síria e na Jordânia, há as deslocadas internamente em seus países, como na Colômbia ou em Darfur, há as crianças que continuam vivendo em áreas de conflito, como no Congo e no Iraque. Também estamos falando das crianças repatriadas, que voltam para áreas que são bombardeadas ou com minas terrestres espalhadas pelos jardins, como foi no Camboja e é no Afeganistão. Há dezenas de milhões dessas crianças e eu tive o privilégio de encontrar com muitas delas. E elas são inspiradoras, são fortes e eu sei o que elas poderiam fazer com uma ótima educação. E eu também tenho visto a vida delas sem ensino. Eu conheci essas crianças que testemunharam seus amigos e familiares serem mortos, perderam suas casas e não têm nada para fazer, a não ser sentar em um acampamento e reviver tudo o que aconteceu em suas mentes. O ponto é que toda criança tem o direito à educação. E o conflito não é uma desculpa para ignorarmos este direito. Pelo contrário, é quando elas mais precisam de ensino. Isso as ajuda a ganhar um senso de normalidade. Educação lhes dá esperança. Dá-lhes confiança no futuro. Elas sentem que têm um futuro. E essas crianças, elas vão se sentar debaixo de uma árvore, na sujeira, no calor, porque não têm canetas ou materiais e vão escutar o professor. Elas absolutamente são os estudantes mais comprometidos em todo o mundo. E elas são o futuro de seus países, então são o melhor investimento que podemos fazer. Nós precisamos dessas crianças. Nós, a comunidade internacional, precisamos que elas cresçam e se tornem médicos, advogados, engenheiros e professores, porque nós precisamos que elas reconstruam seus países, estabilizem suas nações e, eventualmente, as liderem um dia. Por isso, eu lhes peço para não pensarem nelas como dezenas de milhares de crianças carentes, mas nesta grande força de dezenas de milhões de pessoas fortes que, com apoio, irão fazer coisas incríveis”.
2009
Jolie fez o discurso de abertura do Dia Mundial do Refugiado, com lágrimas nos olhos ao falar sobre a força e resistência das pessoas que conhecera em suas missões pelo ACNUR: “Estamos aqui hoje para falar sobre milhões de famílias desesperadas, famílias tão à parte da civilização que nem sabem que um dia como este existe para homenageá-las. Milhões. E números podem iluminar, mas também podem obscurecer. Então, eu estou aqui hoje para dizer que os refugiados não são números. Eles nem mesmo são apenas refugiados. São mães e filhas e pais e filhos, eles são agricultores, professores, doutores, engenheiros, são todos indivíduos. E, acima de tudo, são sobreviventes – cada um com uma história notável sobre resistência em face de uma grande perda. Eles são as pessoas mais impressionantes que eu já conheci e também umas das mais vulneráveis. Despojados de casa e de país, os refugiados são fustigados por todo vento doente que sopra nesse planeta. Lembro-me de encontrar uma mulher afegã grávida em um campo completamente abandonado no Paquistão. Ela não pôde viajar quando todos foram realocados porque sua gravidez já estava no final. Ela estava sozinha com seus dois filhos e outra mulher. Não havia nada por milhas ao redor do campo – nem uma única árvore ou outras pessoas. Então, quando elas me pediram para entrar e tomar um chá, eu disse que não achava necessário. Mas, sendo afegãs, elas se orgulham em como tratam seus convidados, então insistiram e me guiaram para dentro de uma pequena e suja casa, sem teto para impedir o calor escaldante e tiraram o pó das duas esteiras velhas em que comiam, dormiam e rezavam. E nós nos sentamos e conversamos e elas eram as mulheres mais encantadoras. E, então, com alguns galhos e um único copo de água, elas preparam o último chá que havia e insistiram para que eu o apreciasse. Desde antes da Parábola da Viúva Pobre é sabido que aqueles que têm menos são os que dão mais. A maioria das famílias de refugiados irá lhe oferecer o único alimento que têm e fingir que não estão com fome. E a generosidade dos pobres não se aplica apenas aos refugiados. Não devemos nunca nos esquecer de que mais de 80% dos refugiados são acolhidos e vivem por anos e anos nos países mais pobres em desenvolvimento. Paquistão, país que agora enfrenta crise com mais de dois milhões de paquistaneses, continua acolhendo 1.7 milhões de afegãos e já recebeu milhões de famílias afegãs durante quase trinta anos. Lembro-me que antes de dizer adeus à mulher grávida, ela apontou para um menino. Ele tinha um rosto empoeirado, os olhos verdes mais brilhantes que eu já vi, mas um olhar triste. Ela explicou que ele está sempre pedindo por mais comida. E dói a ela dizer que eles não têm nada. E ela perguntou se nós podíamos considerar a possibilidade de levá-lo, de levar seus filhos para que eles pudessem comer. E ela disse isto com lágrimas nos olhos, com tamanho desespero. Um desespero inimaginável para todos os pais nesta sala. Algumas semanas mais tarde, a guerra no Afeganistão começou e combates pesados aconteceram bem onde eles viviam. Estive de volta àquela região três vezes e sempre procurei por eles. Lembro-me de, na Tanzânia, ter conhecido uma criança em uma barraca. Ele estava sentado no chão empoeirado, havia sido baleado nas costas, o que o deixou paralítico. E ele se arrastou para frente para apertar a minha mão, ele não tinha mais do que quinze anos. Ele tinha olhos bonitos, um bonito, grande e largo sorriso, e mesmo depois ter passado por tudo que passou, ele estava cheio de risos e amor. Mais tarde naquela noite, eu perguntei se ele não havia sido levado ao hospital ou ao menos recebido uma cadeira de rodas e me disseram que a família inteira do menino fora assassinada e não havia ninguém para cuidar dele. E ele não foi acolhido por terceiros. Um trabalhador humanitário disse que já tinham gasto o dinheiro que podiam, mas não tinham mais. E eu pensei nele a noite toda e me perguntei o que deveria fazer. E depois me lembrei de quando andei pelo campo e vi mais vítimas de guerra. Vi crianças pequenas cheias de fome e medo, mães chorando, pais feridos, eu vi um mar de humanidade, todos desesperados, todos dignos. Há centenas de milhares naquele campo e existem milhões ao redor do mundo. E naquele momento, eu me senti sem esperança e oprimida pela percepção da magnitude do problema. Mas, mais tarde naquela viagem, eu conheci uma menina de oito anos que viu a família morrer na sua frente e agarrou seu irmãozinho, correu para a floresta e sobreviveu, apavorada e sozinha por duas semanas. Ela conseguiu encontrar bananas para alimentar-se e para o irmão. E quando eu a conheci, ela não falava, ela só andava ninando e eu tentava lhe dizer o quão corajosa nós achávamos que ela era. Ela apenas olhava para a janela. Um ano depois, eu retornei àquele campo e a vi novamente. Ela ainda era muito tímida, mas estava começando a falar e ela era doce e educada, mas ela ainda não se importava comigo ou com os outros visitantes, ela só queria saber como seu irmão estava. Ela era a mãe dele agora. Aquela menininha tinha uma profundidade e força que eu nunca vou conhecer. E naquela viagem, e em muitas outras que se seguiram, eu passei a enxergar os refugiados não apenas como as pessoas mais vulneráveis do mundo, mas como as mais resistentes. Como americana, eu sei a força que a diversidade deu ao meu país. Uma nação construída por pessoas que alguns hoje descartariam por serem solicitantes de refúgio ou migrantes econômicos. Eu acredito que devemos persuadir o mundo de que os refugiados não devem ser vistos como um fardo. Eles são sobreviventes. E eles podem trazer qualidades a serviço das comunidades e países que os abrigam. Nos últimos nove anos eu fiz muitas viagens de campo com o ACNUR. Eu fiz isto para chamar atenção para os refugiados, mas também fiz por mim. Os refugiados que conheci e que passei um tempo mudaram profundamente a minha vida. A menina de oito anos que salvou seu irmão me ensinou o que é ser corajosa. A mulher grávida no Paquistão me ensinou o que é ser mãe. E o menino paralítico com seu grande sorriso me mostrou a força de um espírito inquebrantável. Por isto, hoje, no Dia Mundial dos Refugiados, eu os agradeço por terem me deixado entrar em suas vidas”.
2010
Após várias visitas ao Haiti, Jolie estabeleceu o Jolie Legal Fellows Program, com o objetivo de apoiar o governo haitiano em seus esforços para fortalecer seu sistema judicial no ambiente caótico pós-terremoto de janeiro 2010. O programa aloca jovens advogados no judiciário haitiano para apoiar os esforços do governo de proteção à criança.
A Fundação Jolie-Pitt já doou milhões de dólares às causas humanitárias, como aos refugiados paquistaneses atingidos por conflitos entre as tropas governamentais e os militantes talibãs no noroeste do Paquistão e à educação de crianças iraquianas afetadas pela guerra, através de financiamento de material escolar e de programas de reconstrução de escolas. Jolie também financiou centros infantis com tratamento inovador para crianças infectadas ou afetadas por tuberculose e HIV no Camboja e na Etiópia.
2013
Em janeiro, o programa Jolie Legal Fellows anunciou parceria com a “Lawyers for Justice in Libya”, através do Projeto Destoori, que visa educar os cidadãos líbios sobre o processo de criação constitucional, envolver a opinião pública e criar uma conexão e um senso de propriedade entre o povo líbio e sua Constituição.
Em março, Angelina Jolie e William Hague, então secretário das Relações Exteriores do Reino Unido, encontraram-se com sobreviventes de estupro e violência sexual na República Democrática do Congo e em Ruanda. O objetivo da viagem foi destacar o terrível custo humano dos estupros como arma de guerra em zonas de conflito e chamar a atenção da comunidade internacional para o crescente e negligenciado problema. A visita conjunta continuou o trabalho iniciado por ambos em maio de 2012, quando Jolie e Hague lançaram, em Londres, campanha contra estupro em zonas de conflito e violência sexual.
Em abril, Jolie reuniu-se em Londres com os ministros de Relações Exteriores do G8 e fez um apelo para que os crimes de guerra não fiquem impunes e os seus autores sejam condenados. Os chanceleres concordaram em fazer um clamor para aumentar os esforços em busca de justiça para as vítimas de abuso e violência sexual, incluindo US$ 35,5 milhões em financiamento para esforços de prevenção e de resposta.
“Ministros de Relações Exteriores, Embaixadores, senhoras e senhores. Centenas de milhares de mulheres e crianças foram agredidas sexualmente, torturadas ou forçadas à escravidão sexual nas guerras da nossa geração. Novamente o mundo não conseguiu impedir esse abuso ou punir os seus autores.
O estupro tem sido tratado como algo que simplesmente acontece na guerra; perpetradores aprenderam que podem sair impunes e às vítimas lhe foram negadas justiça. Mas não, o estupro em período de guerra não é inevitável. A violência pode ser evitada e deve ser confrontada.
Há muitas pessoas e ONGs que têm trabalhado incansavelmente por anos para resolver esses crimes. Mas a vontade política internacional tem estado extremamente em falta. Eu ouvi sobreviventes de estupro da Bósnia à República Democrática do Congo dizerem que o mundo simplesmente não se importa com eles. E quem pode culpá-los?
Por muito tempo eles têm sido as vítimas esquecidas da guerra: não são responsáveis por nenhum dos danos, mas suportando o pior da dor. Mas hoje, eu acredito, suas vozes foram ouvidas e nós finalmente temos alguma esperança para lhes oferecer.
Eu parabenizo o suporte há muito tempo esperado que o G8 assumiu e essa Declaração histórica. E eu gostaria de agradecer aos governos dos países que assumiram os compromissos de financiamento hoje. Eu particularmente endosso as fortes palavras da Declaração sobre os direitos e as liberdades para mulheres e crianças, e sua promessa de incluir as mulheres nos processos de paz e de transições democráticas.
Eu parabenizo o reconhecimento de homens como vítimas de violência sexual, e a ação prática prometida para ajudar a acabar com o estigma dos sobreviventes e fornecer reabilitação, especialmente para as crianças.
Não há escolha entre paz e justiça: a paz exige a justiça. Então eu parabenizo o compromisso do G8 por considerar estupro e violência sexual nos conflitos armados como graves violações das Convenções de Genebra; e por não dar anistia àqueles que cometeram esses crimes. E apoio totalmente o trabalho que agora começa sobre o protocolo internacional para a investigação e documentação da violência sexual em conflitos, e aguardo sua adoção.
Ministros de Relações Exteriores, milhões de pessoas estavam à espera dos compromissos que vocês acabaram de fazer, e estarão de olho para que os compromissos sejam implementados. Vocês prometeram trabalhar em conjunto para aumentar a conscientização sobre a violência sexual e para derrubar as barreiras à justiça. E isto não pode ser subestimado.
Também é encorajador ver homens em posições de liderança falando contra o estupro e espero que muitos outros sigam o exemplo.
Presto homenagem a Zainab Bangura por seu trabalho corajoso e maravilhoso; gostaria de agradecer a William Hague por sua liderança: estupro não é uma questão das mulheres ou uma questão humanitária, é uma questão global e faz parte do topo das discussões internacionais de tomada de decisão, onde ele a colocou. Então eu espero fazer a campanha com ele na ONU e apelo a outros governos para fazer dessa causa sua prioridade. Se eles fizerem isso, será o começo de uma nova aliança global contraestupro em zona de guerra e violência sexual e, finalmente, o fim da impunidade. Obrigada.”
Também em abril, Jolie fundou uma escola para 300 meninas no Afeganistão, a segunda financiada por ela no país (a primeira foi aberta em 2010), e lançou a linha de joias “Style of Jolie”, na qual todo o lucro será revertido para a construção de novos colégios em áreas pobres e zonas de guerra.
Por ocasião do Dia Mundial do Refugiado de 2013, Jolie fez a seguinte declaração:
O impacto do conflito sírio na Jordânia e em toda a região representa a pior crise humanitária atualmente em curso em todo o mundo. 1,6 milhão de pessoas fugiram da Síria levando nada mais do que a roupa do corpo, e mais e mais pessoas entram nos países da região a cada minuto. Mais da metade é formada por crianças.
Eles deixaram para trás um país no qual milhares de pessoas estão deslocadas, sofrendo com a fome, privações e medo; no qual incontáveis mulheres e meninas foram vítimas de estupro e violência sexual; no qual uma geração inteira de crianças está fora da escola; onde ao menos 93 mil pessoas foram assassinadas: amigos, vizinhos, pais, mães e filhos dos refugiados que hoje vivem neste campo.
Gostaria de agradecer as pessoas na Jordânia, Líbano, Iraque e Turquia por acolher os refugiados sírios em suas casas e comunidades. Sua generosidade está salvando vidas. Mas eles não podem fazer isso sozinhos. Eles precisam de apoio e recursos financeiros. A economia destes países está sobrecarregada, o que representa grande risco à sua estabilidade.
Peço para que todas as partes envolvidas no conflito sírio cessem os ataques aos civis e permitam o acesso da ajuda humanitária. E faço um apelo aos líderes mundiais – por favor, deixem de lado suas diferenças, unam-se para acabar com a violência, fazendo a diplomacia triunfar. O Conselho de Segurança da ONU deve desempenhar suas responsabilidades. A cada 14 segundos alguém cruza a fronteira síria, tornando-se um refugiado. E ao final desse ano, metade da população síria – dez milhões de pessoas – precisará de ajuda para se alimentar, se abrigar, como também de outros tipos de assistência. A vida de milhares de pessoas está em suas mãos. Busquem interesses comuns.
Hoje, Dia Mundial do Refugiado, gostaria de dizer uma palavra sobre os mais de 15 milhões de pessoas que vivem como refugiados em todo o mundo. Refugiados são constantemente esquecidos e frequentemente incompreendidos. Eles são vistos como um fardo, como pessoas indefesas, ou como pessoas que simplesmente desejam se deslocar para outro país. Isto não é o que eles são.
Conheci refugiados em todo o mundo. São pessoas resilientes, trabalhadoras e graciosas. Eles viveram mais violência e encararam mais medo do que jamais enfrentaremos. Perderam suas casas, seus pertences, seus países. Frequentemente, perderam suas famílias e amigos em trágicos acontecimentos. Confrontados pela guerra e pela opressão, os refugiados escolheram não pegar em armas, mas encontrar segurança para suas famílias. Eles merecem nosso respeito, nosso reconhecimento e nosso apoio – não somente hoje, mas sempre, por toda provação que experimentaram.
Ao ajudar refugiados, aqui no campo de Za’atri e em todo o mundo, estamos investindo em pessoas que, um dia, reconstruirão seus países, como também, em um mundo muito mais pacífico para todos nós. Por isso, no dia de hoje, homenageio e também me sinto privilegiada por estar junto deles.
Em 24 de junho, Jolie e Hague levaram a campanha contra o estupro e a violência sexual nas zonas de guerra ao Conselho de Segurança da ONU (órgão com poder de decisão, constituído por 15 membros: cinco permanentes e com poder de veto – EUA, Rússia, Grã Bretanha, França e China – e dez não permanentes, eleitos pela Assembleia Geral a cada dois anos). Como Enviada Especial do ACNUR, Jolie criticou o CS por sua negligência no tema e evocou os conflitos na República Democrática do Congo e na Síria, em um discurso-surpresa feito diante dos 15 membros.
Senhor Presidente, Senhor Secretário Geral e Ministros das Relações Exteriores, é uma honra estar neste Conselho. Agradeço ao Secretário de Relações Exteriores, Hague, por sua liderança e Zainab Bangura, por seu importante e extraordinário trabalho.
O Conselho de Segurança foi criado há 67 anos e foi testemunha de 67 anos de guerras e conflitos. Mas o mundo ainda tem que considerar o estupro em zonas de guerra como uma séria prioridade. Centenas de milhares – se não milhões – de mulheres, crianças e homens foram estuprados em zonas de conflitos durante nossa vida. Os números são tão grandes e o assunto é tão doloroso que nós temos que parar e lembrar que por trás de cada número, existe alguém com um nome, uma personalidade, uma história e sonhos que não são diferentes dos nossos e dos nossos filhos.
Eu nunca vou me esquecer dos sobreviventes que conheci e o que eles me contaram. A mãe em Goma que teve a filha de cinco anos estuprada do lado de fora de uma delegacia de polícia, na frente de todos. Ou a síria que conheci na Jordânia semana passada que pediu para esconder o rosto e o nome porque ela sabia que se falasse sobre os crimes cometidos contra ela, seria atacada novamente e, possivelmente, morta.
O estupro é uma ferramenta de guerra. É um ato de agressão e é um crime contra a humanidade. Eu entendo que existem muitas coisas que são difíceis para o CS chegar a um acordo. Mas violência sexual em conflitos não deve ser uma delas.
É um crime estuprar crianças, isto não é algo que alguém desta sala não possa concordar. Os erros e os acertos deste debate são simples e as ações que precisam ser tomadas já foram identificadas. O que é preciso é vontade política e é isto que está sendo pedido aos seus países hoje. Agir com o conhecimento do que é certo e do que é injusto e mostrar a determinação de fazer algo a respeito disso.