“O início da Carta da Nações Unidas é ‘Nós, os povos’. É uma das coisas mais bonitas que eu já li – e é isso, a vida que passamos juntos, todas as pessoas do mundo, protegendo nossa história, nossas culturas e aprendendo uns com os outros.”
Angelina Jolie
Após realizar as gravações do longa-metragem “Tomb Raider” no Camboja, em 2000, Angelina Jolie entrou em contato com o ACNUR para conhecer a ação humanitária da ONU direcionada aos refugiados. Logo desenvolveu trabalho de campo com a agência, visitando campos de refugiados em Serra Leoa, Tanzânia, Camboja e Paquistão, insistindo em custear todos os gastos relacionados às suas missões e compartilhando das mesmas condições rudimentares de trabalho e de subsistência da equipe de campo do ACNUR.
Em 2006, durante entrevista para CNN, Jolie explicou por que se envolveu com a causa do refúgio: “No momento em que entrei no avião a caminho de casa (voltando de Serra Leoa, em 2001), eu sabia que estava de alguma forma comprometida em fazer alguma coisa por aquelas pessoas na minha vida. Quando eu fui para o Camboja e aprendi muito sobre a situação de lá, os refugiados de lá, fui conversar com a ONU, porque eu realmente gosto da ideia de que… mesmo a ONU não sendo perfeita, amo o que ela defende. Então eu obtive um livro da ONU e comecei a ler, havia um capítulo sobre refugiados, falando que eram 20 milhões de deslocados, com fotos de Ruanda, e eu fiquei chocada, como era possível eu não saber de nada disso, eu tinha 20 e poucos anos e havia tantas pessoas deslocadas no mundo. Eu sabia que era uma coisa que tinha que ser discutida, mas não estava sendo. E quanto mais eu lia… Eles realmente são as pessoas mais vulneráveis do mundo, eles realmente não têm uma opção, não são só pobres, não são só famintos, eles temem pela própria vida, eles podem ser perseguidos por raça, religião, nacionalidade, eles não têm a proteção do seu próprio país. Eles foram arrancados de algum lugar, sem proteção, com suas famílias, dependendo de que alguém abra as portas para que eles possam deitar e conseguir comida, e talvez eles não voltem mais para casa por décadas”.
Para divulgar a situação de milhões de pessoas desenraizadas, requisitar sua proteção e angariar ajuda internacional à causa, em 2001, Jolie foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR. Em entrevista à CNN em 2006, Jolie ressaltou a importância das Nações Unidas para o desenvolvimento dos trabalhos humanitários: “Nós certamente ouvimos muito sobre as coisas negativas da ONU, sobre as coisas que dão errado. Você não ouve nas notícias diárias sobre a quantidade de pessoas que são mantidas vivas ou protegidas pela ONU. Se essa lista fosse divulgada, as pessoas ficariam chocadas e teriam um pouco mais de respeito. Eu certamente acho que (ONU) precisa de reformas, não é uma organização perfeita por quaisquer meios, mas é o mais próximo que temos de uma instituição internacional que ouve todos os lados, representa todos os lados, e pode tomar alguns tipos de decisões. Há muita coisa que as pessoas não sabem sobre a ONU e o que ela faz de positivo. E existe um diálogo tenso, eu visitei os países e percebi que há um equilíbrio tênue, porque eles (ONU) ainda têm que ser autorizados a trabalhar nesses países”.
Após dez anos trabalhando nesta função, em outubro de 2011 Jolie fez uma avaliação sobre sua atuação, afirmando que finalmente entendia o que significava ser um refugiado: “Eles são de fato as pessoas mais vulneráveis do mundo, são frequentemente vistos como um fardo, quando na verdade deveriam ser vistos como o futuro de seus países, pessoas que são extraordinárias sobreviventes, muito resistentes, famílias maravilhosas. Então, quando encontro-os, sinto uma grande sensação de esperança no futuro, acho que devemos investir neles, apoiá-los. Para que eles tenham, quando voltarem aos seus países, o apoio para ajudar pessoas de outros lugares. Existe de tudo em um campo de refugiados, essas pessoas estão enfrentando todos os males da humanidade e, acima de tudo, perderam seus direitos humanos básicos e suas casas. Cada parte da humanidade está representada em um campo de refugiados, então, quando trabalho com eles, trabalho com todas as questões, além do fato maior de que eles não têm proteção”.
Depois de anos dedicados à agência e à causa do refúgio, com mais de 40 missões de campo para algumas das regiões mais remotas do mundo, em abril de 2012, Jolie foi nomeada Enviada Especial do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres. Na nova função, Jolie se concentra em grandes crises que resultam em deslocamento populacional em massa, defende e representa o ACNUR e Guterres a nível diplomático, e se engaja com os tomadores de decisão mundiais sobre questões de deslocamento global. Em suas missões de campo, continua testemunhando e dando alívio e apoio às vítimas dos conflitos, principalmente às mulheres e crianças vulneráveis, exortando a comunidade internacional à assistência humanitária e encontrando-se pessoalmente com os chefes dos países receptores para expressar o agradecimento diante das fronteiras abertas e da hospitalidade ofertada. Também é marcante a forma como Jolie descreve a resistência dos refugiados, enaltecendo a força, a coragem e a vontade de viver diante das piores adversidades, principalmente a falta de infraestrutura, de educação, de segurança e a dificuldade de integração local.
Além de suas inúmeras missões de campo para o ACNUR, Jolie chama a atenção para as questões humanitárias também no plano político, em reuniões como Fórum Econômico Mundial de Davos e G8 (grupo das autoproclamadas oito nações mais industrializadas e democráticas do mundo).
Seu trabalho tem ajudado a encontrar e promover soluções duradouras para os refugiados e inspirado outras pessoas a conhecer e assumir papel ativo na causa. Jolie também contribui através de volumosas doações ao ACNUR que já ultrapassaram a cifra de US$ 5 milhões desde 2001. Os fundos são destinados à construção de escolas, em locais como Quênia e Afeganistão, e para outras iniciativas que visam melhorar a vida dos deslocados.
Ao ter seus esforços reconhecidos através do Prêmio Humanitário Global de 2005, Jolie agradeceu dizendo: “Depois da minha primeira viagem a um campo de refugiados, eu fiz uma promessa de que tentaria fazer com que os outros entendessem aquilo que eu felizmente tive a sorte de testemunhar. Este prêmio faz com que eu sinta, de alguma forma, que estou fazendo jus àquela promessa”.