Em 12 de julho de 2013, Malala fez o primeiro discurso público desde o atentado, durante a reunião dos jovens líderes na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A data coincidiu com o seu aniversário de 16 anos e foi oficializada pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, como o “Dia Malala”, em homenagem aos seus esforços para garantir educação para todos.
“Eu não sei por onde começar o meu discurso, eu não sei o que as pessoas estão esperando que eu fale. Mas, primeiro de tudo, agradeço a Deus, para quem todos nós somos iguais. E obrigada a cada pessoa que rezou pela minha rápida recuperação e nova vida. Não posso acreditar em quanto amor as pessoas têm demonstrado em relação a mim. Tenho recebido milhares de cartões e presentes do mundo inteiro. Obrigada a todos, às crianças que, com palavras inocentes, me incentivaram, e aos mais velhos, cujas orações me fortaleceram.
Queridos irmãos e irmãs, lembrem-se de uma coisa: O “Dia Malala” não é o meu dia. Hoje é o dia de cada mulher, cada garoto e cada garota que levanta a voz pelos seus direitos. Há centenas de ativistas de direitos humanos e trabalhadores sociais que não estão falando apenas pelos seus direitos, mas que estão lutando para atingir seu objetivo de paz, educação e igualdade. Milhares já foram mortos pelos terroristas e milhões foram feridos por eles. Eu sou só mais um deles. Então, aqui estou. Então, aqui estou eu, uma menina, entre tantas. Eu falo não por mim, mas por aqueles cujas vozes não podem ser ouvidas. Por aqueles que têm lutado por seus direitos. O seu direito de viver em paz. O seu direito de ser tratado com dignidade. O seu direito à igualdade de oportunidades. O seu direito de ser educado.
Queridos amigos, em 09 de outubro de 2012, o Taliban atirou no lado esquerdo da minha testa. Atiraram nos meus amigos também. Eles acharam que aquelas balas nos silenciariam. Mas falharam e, então, do silêncio vieram milhares de vozes. Os terroristas pensaram que mudariam meus objetivos e eliminariam minhas ambições, mas nada mudou na minha vida, com exceção disto: a fraqueza, o medo e a falta de esperança morreram; a força, o poder e a coragem nasceram. Sou a mesma Malala, meus desejos são os mesmos, minhas esperanças e sonhos também.
Queridos irmãos e irmãs, não sou contra ninguém e nem estou aqui para falar sobre uma vingança pessoal contra o Taliban ou qualquer outro grupo terrorista. Estou aqui para falar pelo direito de cada criança à educação. Quero educação para os filhos e filhas dos talibãs e para todos os terroristas e extremistas.
Também não odeio o talibã que atirou em mim. Mesmo que eu tivesse uma arma na mão e ele estivesse na minha frente, não atiraria nele. Esta é a compaixão que aprendi com Maomé, profeta da misericórdia, Jesus Cristo e Lorde Buda; esta é a herança de mudança que recebi de Martin Luther King, Nelson Mandela e Mohammed Ali Jinnah. Esta é a filosofia de não violência que eu aprendi com Gandhi, Badshah Khan e Madre Teresa. E este é o perdão que eu aprendi com meu pai e minha mãe. Isto é o que a minha alma está me dizendo: estar em paz e amor com todos.
Queridos irmãos e irmãs, nós percebemos a importância da luz quando vemos a escuridão. Percebemos a importância da nossa voz quando somos silenciados. Da mesma forma, quando estávamos em Swat, no norte do Paquistão, percebemos a importância de canetas e livros quando vimos armas. O sábio ditado que diz “A caneta é mais poderosa que a espada” é verdadeiro. Os extremistas têm medo dos livros e das canetas. O poder da educação os assusta e eles têm medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os apavora. É por isto que eles mataram 14 estudantes inocentes no recente ataque em Quetta. E é por isto que eles matam professoras. É por isto que eles atacam escolas todos os dias: porque tiveram e têm medo da mudança, da igualdade que vamos trazer para a nossa sociedade. E eu me lembro que havia um menino em nossa escola que foi perguntado por um jornalista o porquê do Taleban ser contra a educação. Ele respondeu muito simplesmente apontando para seu livro: “um talibã não sabe o que está escrito dentro deste livro”. Eles acham que Deus é um pequeno ser conservador que apontaria armas para a cabeça das pessoas só por elas irem à escola. Esses terroristas estão fazendo mau uso do nome do Islã para seu próprio benefício pessoal.
Paquistão é um país democrático e amante da paz. Pashtuns querem educação para seus filhos e filhas. O Islã é uma religião de paz, humanidade e fraternidade. É um dever e uma responsabilidade garantir educação a cada criança, é o que ele diz. A paz é uma necessidade para a educação. Em muitas partes do mundo, especialmente no Paquistão e no Afeganistão, o terrorismo, a guerra e os conflitos impedem as crianças de irem à escola. Estamos realmente cansados dessas guerras.
Mulheres e crianças estão sofrendo de muitas maneiras, em muitas partes do mundo. Na Índia, crianças pobres e inocentes são vítimas do trabalho infantil. Muitas escolas têm sido destruídas na Nigéria, enquanto os afegãos são oprimidos pelo extremismo. As meninas têm que fazer trabalho infantil doméstico e são forçadas a se casarem em uma idade precoce. Pobreza, ignorância, injustiça, racismo e privação dos direitos básicos são os principais problemas enfrentados por homens e mulheres.
Hoje eu estou focando nos direitos das mulheres e na educação das meninas porque elas são as que mais sofrem. Houve um tempo em que as ativistas mulheres pediam aos homens para defender seus direitos. Mas desta vez, nós vamos fazer isto por conta própria. Eu não estou dizendo para os homens não falarem mais dos direitos das mulheres, mas estou focando na ideia das mulheres serem independentes e lutarem por si mesmas.
Então, queridos irmãos e irmãs, agora é a hora de falar. Então hoje, nós conclamamos os líderes mundiais a alterar as suas estratégias políticas a favor da paz e da prosperidade.
Pedimos aos líderes mundiais que todos os acordos de paz protejam os direitos das mulheres e crianças. Um acordo que se oponha aos direitos das mulheres é inaceitável. Convocamos todos os governos a assegurar a educação obrigatória livre para todas as crianças do mundo. Apelamos a todos os governos que lutem contra o terrorismo e a violência, protegendo as crianças da brutalidade e do perigo. Pedimos às nações desenvolvidas que apoiem a expansão das oportunidades educacionais para meninas nos países em desenvolvimento. Apelamos a todas as comunidades para que sejam tolerantes, rejeitem o preconceito baseado em casta, credo, seita, cor, religião ou agenda para garantir a liberdade e a igualdade para as mulheres, para que elas possam florescer. Nós todos não podemos ter sucesso quando metade de nós fica para trás. Conclamamos nossas irmãs ao redor do mundo a serem corajosas, abraçarem a força dentro de si e conscientizarem-se de seu pleno potencial.
Queridos irmãos e irmãs, queremos escolas e educação para o futuro brilhante de todas as crianças. Vamos continuam a nossa jornada para o nosso destino de paz e educação. Ninguém pode nos parar. Vamos falar de nossos direitos e vamos trazer a mudança para nossa voz. Nós acreditamos no poder e na força de nossas palavras. Nossas palavras podem mudar o mundo inteiro porque nós estamos todos juntos, unidos pela causa da educação. E se nós queremos atingir nosso objetivo, então vamos nos fortalecer com a arma do conhecimento e vamos nos proteger com a unidade e união.
Queridos irmãos e irmãs, nós não podemos nos esquecer de que milhões de pessoas estão sofrendo com a pobreza, a injustiça e a ignorância. Nós não devemos nos esquecer de que milhões de crianças estão fora da escola. Nós não devemos esquecer que nossos irmãos e irmãs estão esperando por um futuro brilhante e pacífico.
Deixem-nos, portanto, travar uma luta gloriosa contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Deixem-nos pegar nossos livros e canetas porque estas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.
A educação é a única solução. Educação antes de tudo.
Obrigada.”
Malala