“Não há revelação mais aguçada da alma de uma sociedade do que a forma pela qual ela trata suas crianças.”
Nelson Mandela
Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, no clã Madiba, de etnia xhosa, no pequeno vilarejo de Mvezo, na região do Transkei. Seu pai era o principal conselheiro do rei do povo Thembu. Sua mãe era a terceira de quatro esposas e Rolihlahla cresceu em uma família grande e solidária de meio irmãos e primos, ouvindo histórias dos mais velhos sobre o valor dos seus antepassados durante as guerras de resistência, sonhando com sua própria contribuição na luta pela liberdade de seu povo.
As crianças xhosa eram orientadas a aprender através da imitação e da emulação, as perguntas eram consideradas um incômodo e os adultos transmitiam apenas as informações que julgavam necessárias. Assim, Mandela adquiriu conhecimento principalmente através da observação. Aos sete anos, foi o primeiro membro da família a freqüentar a escola, onde recebeu o nome inglês “Nelson”, de acordo com o costume de dar “nomes cristãos” a todas as crianças em idade escolar. Seu pai morreu pouco tempo depois.
Em 1936, foi enviado para Healdtown, onde lhe foi ensinado um currículo eurocêntrico focado em história britânica e, pela primeira vez, tomou consciência da contradição entre os valores cristãos e sua tolerância e até mesmo apoio ao sistema colonial racista. Iniciou a graduação em Artes na Universidade de Fort Hare, mas foi expulso por ter participado de um protesto estudantil contra as políticas universitárias, concluindo o bacharelado na Universidade da África do Sul.
Em Johanesburgo, trabalhou como agente de segurança de minas e começou os estudos em Direito, mas abandonou a Universidade de Witwatersrand em 1948, sem se formar. Retomou os estudos através da Universidade de Londres, mas também não completou a graduação, obtendo o bacharelado em Direito apenas em 1989, através da Universidade da África do Sul, por correspondência nos últimos meses de prisão.
O envolvimento político de Mandela começou em 1942, unindo-se ao Congresso Nacional Africano (CNA) dois anos depois, quando ajudou a formar a Liga Jovem do partido. Foi também em 1944 o ano de seu casamento com a enfermeira Evelyn Mase, com a qual teve quatro filhos em um relacionamento de onze anos (separaram-se em 1955 e divorciaram-se em 1958, por conta do envolvimento político de Mandela).
Com envolvimento político crescente, Mandela subiu hierarquicamente dentro do CNA. Após a vitória eleitoral de 1948 dos afrikaners e a instituição do regime segregacionista do apartheid, o qual negava aos negros da África do Sul direitos políticos, sociais e econômicos, radicalizou a militância política e liderou campanha de desobediência civil, ajudando a consolidar a resistência ao regime através de um movimento de massa, o Programa de Ação.
Em 1952, abriu com o amigo Oliver Tambo o primeiro escritório negro de advocacia, “Mandela & Tambo”. Também foi o ano de início da Campanha de Desafio, da qual Mandela foi porta voz, convidando os negros à desobediência civil. Foi preso diversas vezes, até ser condenado com base na Lei de Repressão ao Comunismo a uma pena de nove meses de trabalhos forçados, suspensa por dois anos. No final de 1952, foi banido pela primeira vez, sendo proibido de participar de atividades políticas.
Em 1954, o CNA criou o Congresso do Povo para reunir as vítimas do apartheid e, durante encontro no ano seguinte, divulgou-se a Carta da Liberdade, documento contendo um programa para a causa anti segregacionista. Mandela ainda estava proibido de se deslocar, mas conseguiu acompanhar secretamente a reunião.
Em 1955, foi novamente preso, levado a Julgamento por Traição. Em 1958, casou-se com a assistente social Winnie Madikizela, com a qual teve duas filhas e divorciou-se em 1996.
Em 1960, a polícia sul-africana matou 69 manifestantes desarmados durante protesto em Sharpeville contra as leis de passe, levando o país ao estado de emergência e ao banimento do CNA. Mandela estava entre os milhares de detidos durante o estado de emergência, mas foi absolvido no Julgamento por Traição em 1961.
O massacre de Sharpeville fez Mandela abandonar o compromisso com atos apenas não violentos. Assim que foi anistiado no julgamento, passou à clandestinidade e começou a planejar uma greve nacional, tornando-se comandante do Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação), braço armado do CNA.
Em 1962, usando o nome David Motsamayi, conseguiu sair da África do Sul e viajar pelo continente africano e à Inglaterra em busca de apoio à luta armada. Recebeu treinamento militar no Marrocos e na Etiópia, retornando ao país natal seis meses depois. Assim que voltou, foi sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e por incitar greves.
Em 1963, foi julgado por sabotagem no Julgamento de Rivonia. Diante da possibilidade da pena de morte, seu discurso em abril de 1964 tornou-se imortalizado: “Eu tenho lutado contra a dominação branca e eu tenho lutado contra a dominação negra. Eu estimo o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que eu espero viver para alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”. Em junho de 1964, foi classificado como terrorista pelo governo sul-africano e condenado à prisão perpétua.
Mandela passou quase três décadas na cadeia, sempre se recusando a comprometer sua posição política em troca da liberdade com a revisão da pena. Tornou-se poderoso símbolo de resistência e de luta pelos direitos humanos, atingindo campanhas anti apartheid em vários países através do clamor “Libertem Nelson Mandela”.
Com a campanha do CNA e a pressão internacional, foi libertado em fevereiro de 1990, aos 72 anos, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk, com o qual Mandela compartilhou o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
Após o fim do apartheid, foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, governando de maio de 1994 a junho de 1999 e conduzindo com sucesso a reunificação pacífica e democrática de um país estilhaçado pelo racismo. Fiel a sua promessa, deixou o cargo após um mandato como presidente, voltando-se para causas de diversas organizações sociais e de direitos humanos. Continuou trabalhando com a Fundação Nelson Mandela e o Fundo Nelson Mandela para as Crianças.
Aos 80 anos, casou-se novamente com a Prêmio Nansen de 1995, a moçambicana Graça Machel. Retirou-se oficialmente da vida pública em 2004, aos 85 anos.
Foi homenageado com cerca de 250 prêmios. Apesar das mais terríveis provocações e privações, Mandela nunca respondeu ao racismo com a mesma moeda e soube perdoar quem lhe fez mal, sendo uma inspiração a todos os oprimidos e aos que se opõem à opressão.
Fontes: UOL, Nelson Mandela, PSD e Sa History.